Cavaleiro medalhista pan-americano iniciou a carreira limpando cocheiras, na Coudelaria Ilha Verde, de José Victor Oliva, passou a cavalariço na equipe do olímpico João Victor Macari Oliva, aprendeu a montar e hoje é cavaleiro internacional.
Nesta segunda-feira, 17/3, a Confederação Brasileira de Hipismo recebeu oficialmente a confirmação do cavaleiro brasileiro Renderson Oliveira com Fogoso Campline para a Final da Copa do Mundo – FEI World Cup Dressage Final, entre 2 e 6 de abril, na Basiléia, Suíça. Renderson e Fogoso Campline, medalha de prata por equipes e 5º individual no Pan-americano de Santiago 2023, classificaram-se para final ao lado da elite do Adestramento mundial das Ligas da Europa Ocidental, Oriental, Pacífico, América e de candidatos sem Liga, da qual Renderson faz parte.
Renderson e Fogoso Campline tiveram brilhante atuação no Pan 2023 com a prata por equipes e o 5º posto individual
Em 16 de fevereiro desse ano, no CDI-W de Neumünster, na Alemanha, Renderson e Fogoso Campline, Lusitano de 15 anos, deram um passo importante para classificação no Grand Prix Freestyle, garantindo 76,845% de aproveitamento, ao som dos melhores hits Snoop Dog, entusiasmando a plateia. “Escolhi essa trilha porque muita gente acha o Adestramento um pouco chato. Então montei meu freestyle com trilhas do Snoop Dogg para fazer algo diferente e mudar esse pensamento”, destacou Renderson, que mora em Portugal, mas encontra-se está em Hagen, na Alemanha, visando os ajustes finais para Copa do Mundo. “Trabalhei muito por essa convocação para Copa do Mundo, esperei por isso, mas quando a confirmação veio de verdade fiquei feliz demais.”
Renderson e Fogoso Campline no Freestyle em Neumünster
De ajudante de pedreiro à elite do Adestramento Mundial
A trajetória Renderson, 32 anos, é realmente ímpar. Nascido em Ituiutaba, Minas Gerais, filho de pedreiro e de uma cozinheira, Renderson mudou para Araçoiaba da Serra, região de Sorocaba, interior paulista, quando tinha 16 anos para morar com os avós paternos, trabalhando como ajudante de pedreiro e ajudar financeiramente a família.
Durou pouco na função. Assim que soube por um parceiro de futebol de fim de semana, o cavaleiro medalhista pan-americano Rogério Clementino, o Roger, que tinha vaga para limpar cocheira na Coudelaria Ilha Verde, haras do empresário José Victor Oliva, Renderson não perdeu a oportunidade e se candidatou, conquistando a vaga em 2009. Assim como Roger, Renderson é um homem preto que começou no mesmo haras e na mesma função. Até então, nunca tinha tido nenhum contato com o mundo dos cavalos. Aprendiz atento e dedicado, Renderson logo conheceu o também adolescente João Victor Marcari Oliva, filho do patrão e à época um promissor cavaleiro. Nascia ali uma amizade que se tornou fundamental para a vida profissional de Renderson.
Interessado em ir além do posto de limpador de baia, Renderson ganhou nova oportunidade de Roger, responsável pelos animais, para também aprender outras coisas como o manejo dos cavalos e até a montá-los, caso terminasse a limpeza das cocheiras antes. Atingiu a meta e dois anos depois ganhou um novo posto: cavalariço / tratador dos animais e paralelamente foi aprendendo a montar.
Em 2011, Renderson fez sua primeira viagem internacional acompanhando Roger nos Jogos Pan-americanos de Guadalajara, no México. Depois, se dedicou exclusivamente a João Victor, sendo o responsável para cuidar de Xamã dos Pinhais, um Puro Sangue Lusitano que projetou Oliva no cenário nacional e na estreia no circuito internacional.
Como cavalariço, Renderson acompanhou João Victor mundo afora: nos Jogos Sul Americanos 2014 no Chile, nos Jogos Equestres Mundiais de 2014 na França, nas Olimpíadas do Rio 2016, na Final da Copa do Mundo de Dressage de 2017, nos Estados Unidos. Quando João Victor, com 18 anos, se transferiu para a Alemanha, em 2014, Renderson, então com 22 anos, se manteve como seu fiel escudeiro, entre idas e vindas para a Europa, cuidando de diferentes animais, mas também montando e se aperfeiçoando, orientado por João e por seu treinador, o alemão Norbert van Laak.
Renderson com Senhorita VO, da Coudelaria Ilha Verde, campeões brasileiros Cavalos Novos 6 anos em 2019
O talento de Renderson como cavaleiro chamou a atenção do patrão, de treinadores e juízes. Os Oliva passaram a designar importantes cavalos para ele preparar e competir, dando início a uma promissora campanha no circuito nacional, com várias conquistas. O talento de Renderson como cavaleiro chamou a atenção do patrão, de treinadores e juízes. Os Oliva passaram a designar importantes cavalos para que ele preparar e competir, dando início a uma promissora campanha no circuito nacional, com várias conquistas. Quando João Victor mudou para Portugal em 2020 levou Renderson com ele. Foi na ausência de João durante os Jogos de Tóquio que Renderson foi convocado para continuar montando outros cavalos até seu retorno para Portugal.
Em junho de 2021, Renderson se transferiu com a esposa e a filha para Portugal. Por 13 anos, Renderson foi funcionário de carteira assinada na Coudelaria Ilha Verde. Em 2022, Renderson foi convidado pela Campline Horse, para integrar o time de atletas de alta performance de Adestramento com o desafio de que ele participasse do circuito europeu em busca de índices para integrar o Time Brasi. Para tanto, o cavaleiro contou com Fogoso Campline, cavalo que defendeu as cores de Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Entusiasmado com a oportunidade de montar um cavalo “fora de série”, Renderson aceitou o convite, mudou de patrão e abraçou os novos desafios, sempre com a torcida de João Victor e da família Oliva.
Trajetória internacional
Em fevereiro de 2023, na fase qualificatória para os Jogos Pan-americanos de Santiago, Renderson fez sua estreia internacional e no Big Tour, o nível mais alto do Adestramento em concursos em Portugal, onde foi campeão do GP do CDI3* Companhia das Lezírias, vice-campeão do GP Special do CDI3* de Cascais, 3º lugar no GP e GP Special do CDI3* de Alter do Chão, além de 7º lugar no GP e GP Freestyle do CDI3* de Deauville, na França.
Convocado para integrar o Time Brasil no Pan-Americano de Santiago, Renderson comemorou a primeira medalha de prata do país nos Jogos, além do 5º lugar na classificação individual final. Pós Pan e com índice olímpico, Renderson concorreu à única vaga do Brasil para os Jogos de Paris 2024, mas ficou na reserva.
Renderson e João Victor Oliva: unidos conquistando a prata por equipes no Pan Santiago 2023 com Tatiana Gutierrez, secretaria geral da CBH
Missão cumprida para o Time Brasil - Paulo Cesar Santos, Manuel Tavares de Almeida, Renderson e João Victor - com a conquista da inédita prata por equipes
Em 2024, acometido por uma lesão, Renderson ficou fora das pistas a maior parte da temporada, retornando às pistas em novembro no FEI World Cup Madri onde registrou notas acima de 70% no GP e GP Freestyle.
Essa será a terceira vez que o Brasil compete na FEI World Cup Dressage Final: em 2010, com Luiza Tavares de Almeida com Samba ‘s-Hertogenbosch, Holanda, em 2017, João Victor Marcari Oliva montando Xamã dos Pinhais competiu em Omaha, Nebraska/, Estados Unidos, e em 2025, Renderson Oliveira com Fogoso Campline na Basileia, Suíça, 2 a 5 de abril.
Imprensa CBH com Rute Araújo; imgs Pan - Luis Ruas/CBH e Neumünster EQ Equestrian Management