Aproximam-se os Jogos Equestres Mundiais de Kentucky e cresce a expectativa em relação às performances dos atletas que representarão o Brasil. A equipe de Concurso Completo de Equitação (CCE) compete do dia 30/9 até 03/10, com a parte de adestramento dividida em dois dias, mais um dia para o Cross e outro para o Salto.
Vão defender o Brasil: Serguei Fofanoff / Ekus TW, Ruy Fonseca / Tom Bombadill Too, Jesper Martendal / Land Jimmy e Guto de Faria / Ritz Carlton.
Ruy Fonseca, nascido em São Paulo, capital, competiu regularmente no Hipismo Rural antes de se profissionalizar no CCE. Radicado na Inglaterra, atua no cenário internacional com os cavalos Tom Bombadill e Idaho D’Argonne.
Fonseca traz em seu currículo, além dos títulos no Hipismo Rural, a medalha de ouro por equipes nos Jogos Panamericanos de Mar del Plata em 1995. Participa frequentemente dos grandes eventos da modalidade no continente europeu, como Badminton e Luhmuelen, ambos 4 estrelas, nível máximo do CCE.
Cavaleiro ouro por equipes nos Jogos Panamericanos de Mar del Plata, Ruy Fonseca segue sua preparação para o Mundial de Kentucky na Inglaterra; foto: arquivo pessoal do atleta
Por e-mail, diretamente da Inglaterra, Ruy falou sobre sua rotina intensa de treinamentos.
Qual o planejamento ideal para competições de alto nível?
Ruy O planejamento para um concurso 3 ou 4 estrelas deve ser elaborado entre 6 a 8 meses antes da competição. A idade e a experiência do cavalo devem ser respeitadas. Com uma temporada bem planejada, mantendo-se o compromisso com as datas, sempre ficará mais fácil alcançar o objetivo estabelecido.
Considerando-se que entre fevereiro e março o inverno no norte europeu é rigoroso, com muita neve, o trabalho dos cavalos fica restrito ao picadeiro coberto. Apesar das dificuldades climáticas, aproveito o inverno para realizar provas de salto e adestramento. É a oportunidade que tenho para fazer os ajustes necessários. Costumo dizer que só do cavalo subir no caminhão já é válido, pois já está aprendendo algo.
Não dá para preparar adequadamente um cavalo de CCE para a próxima temporada somente no picadeiro coberto! Por essa razão, sempre começo nas competições do “Sunshine Tour”, em Portugal. São 3 semanas de provas para todos os níveis. Aproveito a primeira semana para treinar os cavalos das provas fortes em provas mais fáceis, como a de uma estrela. A idéia é dar uma boa galopada, voltar à rotina. Na segunda, mantenho no mesmo nível ou subo, sem pretensões, para o 2 estrelas, a fim de que possam fazer uma reprise um pouco mais difícil. Na terceira semana, inscrevo-os no 3 estrelas. Por ser início de temporada, não acho justo galopá-los na velocidade exigida na prova.
Como é o treinamento para as competições ?
Ruy Antes das competições 4 estrelas faço sessões de 3 x 11 minutos de galope mais trote. Os galopes têm a velocidade entre 400 e 450 metros por minuto. Quando estes treinos são feitos em pistas apropriadas, com borracha no piso, uso o último minuto para galopar a 650, 700 metros por minuto. Dias de competições são contados como sessões de galopes.
Sempre uma semana antes da prova, levo os cavalos para saltarem um cross pequeno, até 1 estrela, ainda que sejam os “cavalos mais experientes do mundo”. A ideia é que saltem um pequeno buraco, molhem as patas na água etc. É um trabalho para desenvolver a confiança.
Qual o manejo dos seus cavalos ?
Ruy Meus cavalos são soltos em piquetes 4 vezes por semana. Além de serem montados, vão ao “andador” todos os dias. Acho muito importante que eles se soltem, relaxem, antes ou após o trabalho.
Quanto à alimentação, misturo uma ração bem concentrada com uma menos forte. Essa mistura é dividida 3 vezes ao dia. Na última refeição, junto a essa mistura os suplementos como: alho em pó, vitaminas, suplementos para articulações e cartilagens, óleo de milho, cenoura , maçã, etc. Feno, forneço duas vezes ao dia.
Conto com um excelente ferrador e… óleo nos cascos todos os dias. Como na fórmula 1: sem pneus não vamos a lugar algum! (rsrsr..)
Sempre após treinos de galope, faço gelo. Todos os dias verifico os tendões dos meus cavalos, pessoalmente. Sinto se há alteração na temperatura ou algo diferente em sua anatomia.
Qual é a sua meta para o os Jogos Equestres Mundiais de Kentucky?
Ruy Comecei a programação para o Mundial em outubro do ano passado. Busquei passar nas qualificações o quanto antes. Desse modo, minha programação ficou bem mais tranquila para que eu pudesse me dedicar a melhoria da performance.
Tenho como meta final competir em dois ou três CICs 3 estrelas. Assim como um jogador de futebol que tem que jogar e treinar muito para ser convocado... E depois de convocado, jogar e treinar mais forte ainda.
Sempre existe o risco de lesões. Não é fácil. Temos que treinar, galopar e fazer as provas buscando a melhorar a performance. Porém, acredito que é muito mais fácil um cavalo lesionar-se por falta de trabalho e acúmulo de energia, do que se estiver sendo trabalhado regularmente, com a cabeça focada no treinamento. Ou seja: ao se poupar um cavalo para uma competição, os riscos das lesões são iguais ou maiores do que quando se mantêm o treinamento.
Como você avalia a contratação pela CBH do britânico Nick Turner como técnico das futuras equipes brasileiras?
Ruy O sistema de treinamento que o Nick está introduzindo é o mesmo utilizado pelos melhores do mundo: devagar, visando a melhoria concreta a longo prazo. Ele vai apertando, refinando cada vez mais os conjuntos. Sempre quer mais! Faz isto por que acredita que temos bons cavalos e cavaleiros. Quer mais comprometimento e seriedade nos trabalhos. Como os demais técnicos que querem estar à frente em suas modalidades, é rígido, exigente. Sua liderança e carisma vêm facilitando a relação entre os cavaleiros. Contudo, diferencia muito bem o carisma e a exigência. Profissionalismo é a palavra.
Quais são as suas expectativas quanto a equipe brasileira nos Jogos Equestres Mundiais?
Ruy Acredito que realizaremos um bom trabalho. Brigaremos no segundo batalhão de equipes, sendo um 5º lugar o nosso ideal. Com esse resultado garantiríamos, antecipadamente, a vaga para a participação nas Olimpíadas de Londres, em 2012.
E para os Jogos Panamericanos ano que vem, no México?
Ruy: Temos que ter uma equipe muito, muito boa para nos qualificarmos para as Olimpíadas. Pois, ao contrário dos Panamericanos passados, este será uma evento ao nível 2 estrelas e não mais 3 estrelas. A briga será difícil. Sendo um CCI 2 estrelas, aumentam-se as chances de países como México, Argentina, Canadá, EUA, Chile e Uruguai brigarem por medalha, e consequentemente, garantirem a sua participação em Londres, em 2012.
Fonte Horsecross, por Karen Tatiana Rodrigues: empresária e amazona, membro do Comitê de Assessoria de CCE na gestão CBH 2009/2012, Presidente do Conselho Deliberativo da ABHIR 2009/2010