Após 16 anos sem competir pelo Brasil, desde 2006, quando passou a defender Portugal, terra de seus avós, a amazona olímpica paulista Luciana Diniz, 51, integrante da tropa de elite do hipismo mundial, anunciou na segunda-feira, 18/7, a volta às competições pelas cores do Brasil. "Meu retorno tem motivações pessoais, familiares e profissionais. Diria que as de cunho pessoal são as mais fortes, um sentimento de voltar para casa", destaca Luciana.
Luciana Diniz, amazona top mundial, ao lado de sua craque Fit For Fun, hannoverana de 18 anos, oficialmente aposentada em 3/7/2022, no CHIO Aachen 2022; img: Luis Ruas
A tradição, o amor pelos cavalos e esportes estão no DNA da família Diniz. Lica Diniz, mãe de Luciana, foi oito vezes campeã brasileira de adestramento, seu pai Arnaldo dos Santos Diniz, jogador de polo, modalidade também praticada em alto nível por dois de seus irmãos: André e Fábio e Pedro Diniz, ex-piloto de Fórmula 1. Aos 18 anos, Luciana, que começou a montar aos 9 anos e iniciou sua carreira bem a Sociedade Hípica Paulista, se mudou para Bélgica, à época para treinar com Nelson Pessoa Filho, o Neco, um dos principais treinadores do hipismo mundial.
A carreira deslanchou. Em 1994, Luciana disputou seu primeiro Mundial, na Holanda, em 2004 integrou o Time Brasil, 9º colocado em Jogos Olímpicos de Atenas. "Saltar uma Olimpíada pelo Brasil foi a realização de um sonho", lembra Luciana. Em 2006, Luciana passou a defender Portugal. Desde então foram cinco Jogos Olímpicos. Na Rio 2016, Luciana foi 9ª colocada com Fit for Fun, em Tokyo 2020+1, Luciana com Vertigo du Desert "bateu na trave" na disputa por uma medalha fechando em 10º lugar com apenas uma falta no penúltimo obstáculo na grande final.
Luciana e Vertigo du Desert, sela francês de 12 anos, em salto perfeito nos Jogos Olímpicos de Toquio 2020. Vertigo é uma das apostas de Luciana para Paris 2024; img: Luis Ruas
"Sofri uma queda apenas dois meses antes dos Jogos Olímpicos. O Andreas, meu ex-marido, pai dos meus filhos e treinador estava montando o Vertigo. Pude ficar cinco semanas sem montar às vésperas do Jogos e meus cavalos estavam em plena forma", lembra Luciana, que segue treinando em Centro de Treinamento de Andreas Knippling, em Hennef, na Alemanha. "Agradeço ao Andreas também por continuar me oferecendo esse lugar maravilhoso para treinar, além da excelente estrutura, boa energia e meio à natureza. Agora estamos nos preparando com vistas a Paris, estou vivendo esse sonho de saltar pelo Brasil na Olimpíada da França".
Sobre a falta que lhe tirou as chances de medalha em Tóquio, Luciana destaca: "é um dos grandes ensinamentos do esporte. Cair sete vezes e se levantar oito. Os tombos, os "up and downs" fazem parte do esporte e da vida. O importante é perseguir seus sonhos de maneira estratégica e equilibrada."
Pelas cores de Portugal, a partir de 2007, Luciana venceu e se classificou em inúmeros GPs5*. Em 2015, a amazona com sua égua Fit For Fun foi campeã da classificação geral do Global Champions Tour, com vitória nos GPs de Madrid, Viena e Doha, entre outras classificações. "Vencer o GCT 2015 com Fittty sem dúvida foi uma das minhas conquistas mais marcantes", revela Luciana.
Recentemente, no domingo, 3/7, no CHIO Aachen 2022, meca do hipismo mundial na Alemanha, Luciana aposentou oficialmente sua égua Fit fo Fun, também duas vezes vice-campeã no GP Rolex de Aachen. "Ela é uma fantástica égua de esporte, muito feliz e fantástica como mãe. Já tem cinco potros e chegou a hora dela gestar seus potros. Nossos anos juntos foram incríveis. Ela é inteligente, simples, saltava sem martingal. Ela tinha e dava solução para tudo. "Always fit to have fun: sempre disposta a se divertir", destacou Luciana. "Seria um sonho saltar com um filho da Fitty em grandes competições. Mas já saltei seu filho Camargo em Aachen, onde fui 3ª colocada no GP de sábado e ganhei com ele um de GP de Calgary (Canadá).
Luciana e Fit fun For Fun, carinhosamente apelidade de Fitty, com potro ao pé, em emocionante despedida no estádio de Aachen, onde por duas vezes foi vice no GP Rolex
Metodologia
Em 1998, Luciana montando Dover, um de seus principais cavalos ao longo da carreira, venceu GP em Aachen, meca do hipismo mundial. Dover, nascido no Brasil, viria se aposentar aos 20 anos, ainda no auge de sua forma esportiva e saúde. Luciana sempre primou por uma equitação suave, em sintonia e respeito pelos cavalos. Seria esse um dos grandes segredos do sucesso? "Com certeza. Traduzo isto com FLOW. Quando você faz qualquer coisa na sua vida com equilíbrio e preparação, as coisas fluem naturalmente."
Ao longo dos anos, Luciana desenvolveu seu método Butterfly (Borboleta) que aprimora não somente o cavaleiro e cavalos, como também o desenvolvimento e equilíbrio pessoal. "Trata-se de uma visão holística sobre o esporte. Um método que considera os aspectos que influenciam no seu desempenho, desde o emocional, o físico, o técnico, etc. E este aprendizado pode e deve ser aplicado na sua vida profissional e pessoal: "a better person and a better rider" - uma pessoa melhor e um cavaleiro/amazona melhor.
A preparação física, especialmente, após a queda antes dos Jogos Olímpicos é parte da rotina de Luciana. "Faço um acompanhamento com pilates, fitness, exercícios myoflex, trabalho de toda forma para fortalecer um problema que foi fruto de uma queda. Estou ótima e aprendi a viver com uma artrose crônica e tenho que tomar sempre bons cuidados como aprender a cair com ajuda de aulas de judô e outras técnicas.
Luciana também comentou o desafio de competir em alto nível. "Espero ser uma motivação para as jovens amazonas. O hipismo é singularíssimo neste aspecto de que homens e mulheres de diferentes idades competem em igualdade. É fantástico. Chegar ao nível internacional é difícil independente do gênero, embora o meio seja machista, como em tudo", enfatiza a amazona.
Próximos objetivos
Finalmente, Luciana também destacou a receptividade da Confederação Brasileira pela sua volta. "Fui recebida de braços abertos, o que me deixou muito feliz e ainda mais entusiasmada. O Fefo, (Fernando Sperb, presidente da CBH), disse que sempre foi meu fã e que seu sonho seria me trazer de volta. Fiquei muito feliz ao escutar isso. O Pedro Paulo Lacerda, chefe de equipe, também foi sempre fiel e há anos tenta me persuadir a voltar. Tudo tem a hora certa. O Pan-americano no Chile e Olimpíadas de Paris são meus próximos objetivos", enfatiza Luciana, que também deixou mensagem especial.
"Tenho fãs em todo o mundo. O esporte tem esta magia de unir as fronteiras. As grandes fronteiras são nossos limites que ultrapassamos todos os dias em nossos treinos, na capacidade de controlar de nossas emoções. Agora salto pelo Brasil de novo e meu grande objetivo é consolidar meu método Butterfly de crescimento pessoal, esportivo e profissional. Continuo sendo a mesma Luciana de sempre inspirando cavaleiros mundo afora, lhes inspiro e eles me motivam a estar sempre procurando aprender e melhorar."
Imprensa CBH com fotos: Luis Ruas