O que é atrelagem?
Antecessora do automóvel e meio de transporte por excelência até início do século XX, a Atrelagem animal surgiu há cerca de 4 mil anos a.C. Chegou no rastro da invenção da roda.
Bela parelha de Lusitanos frente a Atrelagem nas Fazenda Interagro no interior paulista
Os romanos tiveram papel fundamental no desenvolvimento deste meio de transporte. Antes mesmo da Era Cristã já faziam uso intenso de carruagens leves puxadas por até quatro cavalos. Pelo número de animais atrelados eram chamados de “bigas”, “trigas” ou “quadrigas”. Nas viagens mais demoradas os romanos usavam a carroça-dormitório; enquanto o “Cisium”, um carro mais resistente, era usado como correio, percorrendo longas distâncias.
Belos animais da raça Clydesdale frente à carruagem com Claudio Borja, pioneiro na modalidade no país, na condução
A partir da Idade Média, com o declínio do Império Romano, estes veículos quase desapareceram. No entanto, o resgate do transporte atrelado ressurgiu nos séculos XIII e XIV, atingindo seu apogeu no século XV, quando a estrutura dos carros era bastante parecida com a atrelagem utilizada na Antigüidade, no entanto, acrescidos, agora, de adereços e ornamentos.
Nobres, aristocratas e a realeza européia se renderam a Atrelagem, transformando-a não só em um meio de transporte ou motivo de status, mas também em disputa com a instituição do trote atrelado, ou seja, as provas de Atrelagem. Nascia, ali, a “Era das Carruagens”.
Na trilha da evolução, o automóvel surgiu no rastro da Atrelagem, e quem apostava na aposentadoria dos veículos movidos a cavalo se enganou. Transformada em esporte eqüestre, a Atrelagem passou a ser cultiva por quem preserva a elegância e o charme de um tempo que não volta mais.
Parelha de cavalos da reaça Bretão em apresentação de atrelagem no Clube Hípico de Santo Amaro
Os movimentos sincronizados e ritmados - sempre no andamento trotado -, a elegância dos trajes e dos carros, a beleza plástica dos animais e a destreza dos condutores fazem da Atrelagem uma paixão preservada no mundo inteiro e transformada em competição.
Em concursos de Atrelagem são realizadas provas diferenciadas, entre elas o Concurso Completo composto por provas de Adestramento, Maratona e Maneabilidade, além de provas de “Condução e Elegância” e “Precisão”.
Na prova de “Condução e Elegância” os juízes observam a apresentação geral do competidor, condutor, passageiro, parada e o recuo. Já a prova de “Precisão”, realizada num percurso com obstáculos, são observados tempo e penalizações.
O lusitano e atrelagem
O Puro Sangue Lusitano tem na Atrelagem uma tradição milenar. No Brasil, a Interagro, de Itapira (SP) foi o criatório pioneiro da raça a investir na modalidade, desenvolvendo linhagens próprias, treinando condutores e importando da Alemanha cinco “carros” para a prática do esporte: um do tipo "Marathon" para provas com obstáculos; dois do tipo "Fun-Line" para passeio e competições menos especializadas e dois "Phaeton" para passeio e competições de 'dressage'.
Cavalos lusitanos frente à atrelagem na Fazenda Interagro: criatório pioneiro a investir no modalidade
O carro tipo “Marathon” é destinado às provas de 'cross-country' e tem tração individual; os outros carros podem ser utilizados com tração 'single', 'pair' ou 'team', esta última podendo ser com 4 ou mais animais. As Fazendas Interagro possuem 'teams' de 4, 6 e 8 cavalos.
Lusitanos na Atrelagem
Desde 1998 a Interagro vem desenvolvendo uma linhagem de cavalos próprios para a prática da Atrelagem, o que implica em inicialmente desbastá-los e posteriormente, quando já perfeitamente equitados, atrelá-los, primeiro individualmente e posteriormente em parelhas.
Raça de "Sangue Frio" usadas na Atrelagem no Brasil
Entre as raças “pesadas” - também chamadas de “sangue frio” - que praticam a Atrelagem no Brasil estão o Bretão, o Percheron e o Clydesdale.
Bretão: Considerada a raça de tração mais difundida na Europa, o Bretão foi eleito o preferido dos pequenos e médios agricultores, sendo um substituto eficiente de burros, mulas e de pequenos tratores.
Carol Borja apresentando um belo Bretão
É utilizado para puxar carruagens e troles em passeios turísticos, como montaria em desfiles e no policiamento. Na lida, puxa toras nos reflorestamentos, na extração de madeira, além de ser usado na aração da terra e no manejo das fazendas. Um Bretão puro consegue puxar um implemento sem rodas de até 1.500 kg, e com rodas até 4.000 kg.
Percheron: É a raça de tração mais popular do mundo. Originários da França estes animais fazem muito sucesso na América do Norte. Dono de grande força e elegância, o Percheron é utilizado em diferentes funções. No Brasil a raça foi introduzida na década de 20 do século passado numa iniciativa do Exército, além das companhias Matarazzo e Cervejaria Antarctica, que utilizavam estes animais para puxar os carroções de entrega na cidade de São Paulo.
Parelha de animais Percheron em apresentação no Clube Hípico de Santo Amaro
Clydesdale: Raça de tração originária da Inglaterra, o Clydesdale também conquistou a América, especialmente os Estados Unidos e Canadá, que já concentram as maiores criações mundiais da raça. O Clydesdale chega a pesar 1.200 kg, ultrapassando 1,80m de altura até a cernelha. Os animais necessitam de um arreamento feito sob medida e de forma personalizada.
Parelha de animais Clydesdale no Carroção
Outras iniciativas de fomento
Se no Puro Sangue Lusitano a Interagro foi pioneira na seleção e treinamento de animais para Atrelagem, nas raças de “sangue frio” o papel coube a Estância São Francisco de Borja, de Amparo (SP). Cláudio Borja, seu proprietário, começou a importar os primeiros animais das raças Bretão e Percheron no início da década de 90. Em 1999 importou dos Estados Unidos dois Clydesdale. Darrel Of Grandview e Jim Of Grandview fizeram muito sucesso se apresentando atrelados a uma réplica de carruagem francesa do século XIX e a um carroção de entrega de cerveja importado da Europa. Em 2009, todos os animais foram transferidos para o Haras Larissa, em Monte Mor (SP), aonde a Atrelagem começa a reescrever uma nova página de sua história.
Outro trabalho pioneiro na promoção da Atrelagem foi da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Bretão que vem promovendo há vários anos apresentações de Atrelagem, além de instituir um campeonato paulista aberto a todas as raças.
A Associação Brasileira de Criadores do Puro Sangue Lusitano é outra entidade que vem fomentando a Atrelagem através de apresentações em suas exposições anuais com participação aberta a todas as raças.
A Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Árabe promove há vários anos em suas principais mostras, competições denominadas “Pleasure Driving” (prova com tração) onde é mostrada toda a habilidade do cavalo Árabe como animal de tração.
Puro Sangue Árabe mostrando sua habilidade no Pleasure Driving
A CBH oficializa a modalidade e nasce a Associação Brasileira de Atrelagem
O trabalho que o Haras Larissa, propriedade do empresário e cavaleiro Álvaro Coelho da Fonseca vem desenvolvendo com coordenação de Carolina Borja, veterinária filha de Cláudio Borja, tem sido de fundamental importância para o fomento da Atrelagem no Brasil. Contabilizando mais de 40 “carros” e dezenas de animais próprios e de terceiros de raças como Bretão, Percheron, Clydesdale, Haflinger, Hackney e Puro Sangue Lusitano, o Larissa promoveu em outubro de 2009 uma inédita apresentação no Brasil de Atrelagem com participação de animais destas raças formando quadras e parelhas, engatados a carruagens antigas e com condutores em trajes típicos. Este show de elegância contou com a participação de Madalena Abecassis, de Portugal, juíza internacional da modalidade que na ocasião ministrou palestra sobre o esporte.
Carol Borja com Jasim em apresentação de Atrelagam no Haras Larissa
No segundo semestre de 2009 a Confederação Brasileira de Hipismo oficializou a entrada da Atrelagem que passa a ter suas competições regidas pela entidade máxima do hipismo no Brasil. Paralelamente foi instituída a Associação Brasileira de Atrelagem com o objetivo de fomentar o esporte entre todas as raças.
***
Sugestões, correções e envio de imagens? Colabora mandando uma mensagem para imprensa@cbh.org.br
Fonte: Interagro / Hippus / Country Press
Fotos: Tupa Vídeo/Interagro (Lusitano) / Ney Messi (Lusitano, Bretão e Percheron) / Rogério Santos (Árabe)